Monday 24 August 2009

Les maitres du temps


Carta de Sêneca a Lucílio, CVII

Tradução do original em latim: Dr. Aldo Dinucci 1

Sêneca saúda seu amigo Lucílio.

“(1) Onde está aquela tua prudência? Onde a sagacidade nas coisas que se devem discernir? Onde a grandeza de alma? Já as pequenas coisas te afligem? Teus servos viram em tuas ocupações a oportunidade de fuga. Se os amigos te enganaram, que tenham então este nome, o qual nosso erro lhes colocou de modo impensado. E que sejam assim chamados, para que seja mais vergonhoso não o serem. Pois bem, há algo a menos entre as tuas coisas: aqueles amigos que agora te faltam são aqueles que destruíam a tua obra e te consideravam molesto aos demais.

(2) Nenhuma destas coisas é insólita, nenhuma inesperada. Ofender-te com estas coisas é tão ridículo quanto te queixares porque caíste em público ou porque te sujaste na lama. A mesma condição têm a vida, o banho público, a multidão, a viagem: algumas coisas serão atiradas em ti, algumas coisas acontecerão. Não é coisa delicada viver. A uma longa viagem vieste, e é necessário que escorregues e que tropeces e que caias e que te canses e que exclames: “Ó Morte!”, isto é, é necessário que mintas. Num lugar deixarás para trás um companheiro; noutro sepultarás um; noutro ainda terás medo; deste modo, por entre ferimentos, é necessário atravessar este difícil viagem. (3) Deseja alguém morrer? Que seu espírito esteja preparado contra todas as coisas; que saiba por si mesmo que chegou onde estronda o trovão. Que saiba por si mesmo que chegou onde… /…Perdas e Vingança estabeleceram seus quartéis de governo E pálidas e tristes doenças e a velhice habitam2. Nesta morada é necessário gastar a vida. Escapar dela não podes, desprezá-la podes. (4) Desprezarás, porém, se muitas vezes pensares e conjecturares as coisas futuras. Todos mais corajosamente atravessam aquilo para o que durante muito tempo se preparam, e, do mesmo modo, resistem, se previamente refletem sobre os obstáculos. Por outro lado, teme-se muito aquilo contra o que não se preparou, mesmo as coisas fúteis. Isto é necessário fazer: que nada seja para nós inesperado. E, porque todas as coisas são mais graves pela novidade, disto te defenderá a reflexão constante – assim, peço-te que de modo algum ajas como um mau recruta. (5) “Os servos me deixaram”. A outro roubaram, a outro falsamente acusaram, a outro assassinaram, a outro traíram, a outro esmagaram, a outro envenenaram, a outro atingiram com falsa acusação: o que quer que digas, aconteceu a muitos. Em seguida, <é preciso que saibas que> muitos e variados dardos há e são dirigidos a nós. Alguns estão fixados em nós, alguns são lançados e chegam com força máxima, (6) alguns, que vão atingir outros, resvalam em nós. (6) Em nada nos admiremos destes , para os quais nascemos; os quais, por esta razão, de modo algum devem ser lamentados, porque são pátria para todos. Assim, digo que são iguais , pois também se pode sofrer aquilo do que se escapa. Além disto, uma lei eqüitativa é o que é estabelecido para todos, não o que ocorre para todos. Que seja prescrita eqüidade ao espírito, e que paguemos sem queixas os tributos de nossa condição mortal. (7) O inverno faz vir o frio: é necessário gelar. O tempo traz de novo o calor: é necessário arder. A intempérie do céu provoca a saúde: é necessário adoecer. Uma fera em algum lugar se aproximará de nós, e um homem mais pernicioso que todas as feras. Algo a água, algo o fogo nos retirará. Esta condição das coisas não podemos mudar. Mas isto podemos : adotar um espírito elevado e digno do homem nobre para (8) que corajosamente suportemos as coisas fortuitas e nos harmonizemos com a Natureza. A Natureza tempera este reino que vês com as mutações: o céu sereno sucede ao coberto de nuvens; agitam-se os mares com a condição de que se acalmem; parte do céu se ergue, parte imerge. A eternidade das coisas consiste nos contrários.”

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